quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tranquilidade das ovelhas.


Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança. Está sempre à procura de companheiros para brincar. (RUBEM ALVES)



Terminei de ler esse livro:  "Perguntaram-me se acredito em Deus" de Rubem Alves.  Achei-o fantástico!!!  Para ver essa postagem completa, clique aqui.

Neste  livro o protagonista, mestre Benjamin, é procurado todas as noites por famílias que querem ouvir suas histórias sobre a criação do mundo, Deus, esperança, felicidade, oração, sabedoria e outros tantos assuntos.

Cada assunto é tratado em um capítulo próprio, geralmente com a pergunta de uma das pessoas que vão até a tenda do mestre Benjamin. Porém, ele não dá uma resposta pronta, mas inventa hstórias para ilustrar cada um dos assuntos de maneira encantadora e poética.

O mestre Benjamin usa exatamente o recurso de explicar diversos assuntos através de histórias e poesia, fazendo alusão as famosas parábolas que Jesus recorria para se expressar. Valeu muito pra mim essas leituras.

Quero partilhar com vocês, uma história linda de viver!!! (desse livro)

 


 A noite estava escura, céu sem estrelas. De vez em quando ouvia-se o uivo de um lobo bem longe, misturado com o barulho do vento. As crianças reunidas na tenda do Mestre Benjamim estavam com medo. Mestre Benjamim sentiu o medo nos seus olhos. Foi então que uma delas perguntou:

Mestre Benjamim, há um jeito de não ter medo? Medo é tão ruim! Mestre Benjamim respondeu:

Há sim… E ficou quieto.

Veio então a outra pergunta:

‑ E qual é esse jeito?

‑ É muito fácil. É só pensar como as ovelhas pensam…

‑ Mas como é que vou saber o que as ovelhas estão pensando?

Mestre Benjamim respondeu:

‑ Quando durante a noite, as ovelhas estão deitadas na pastagem, os lobos estão à espreita. E eles uivam. As ovelhas têm medo. Mas aí, misturado ao uivo dos lobos, elas ouvem a música mansa de uma flauta.
 É o pastor que cuida delas e não dorme nunca. Ouvindo a música da flauta elas pensam:
Há um pastor que me protege. Ele me leva aos lugares de grama verde e sabe onde estão as fontes de águas límpidas. Uma brisa fresca refresca a minha alma. Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas. Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro da morte eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranquilizam. Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer. Passa óleo perfumado na minha cabeça para curar minhas feridas. E me dá água fresca para sarar o meu cansaço. Com ele não terei medo, eternamente… (Salmo 23, paráfrase)

Mestre Benjamim parou de falar. Os olhos de todas as crianças estavam nele.

Foi então que uma delas levantou a mão e perguntou:

‑ E os lobos? Eles vão embora? Eles morrem?

‑ Os lobos continuam a uivar. E continuam a ser perigosos. O pastor não consegue espantar todos eles. E por vezes eles atacam e matam. Mas as ovelhas, ouvindo a música da flauta do pastor dormem sem medo, não porque não haja mais perigo, mas a despeito do perigo. Não há jeito de acabar com o perigo. Mas há um jeito de acabar com o medo. Coragem é isso: dormir sem medo a despeito do perigo…
As crianças voltaram para suas tendas e dormiram sem medo, pensando nos pensamentos das ovelhas. De vez em quando, lá fora, ouvia-se o uivo de um lobo faminto. Desde então, tornou-se costume contar ovelhinhas para dormir.

domingo, 19 de maio de 2013

Tecendo a manhã.

                          A função do educador é despertar para o conhecimento.  


A função do galo é despertar outros galos.
 

 Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs e dizia para a bicharada do galinheiro:
_ Vou cantar para fazer o sol nascer...
Ato contínuo subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o horizonte e ordenava, definitivo:
_ Co-co-ri-có...
E ficava esperando.
Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo.
O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos, e dizia:
_ Eu não disse?
E todos ficavam boquiabertos e respeitosos ante poder tão extraordinário conferido ao galo: cantar pra fazer o sol nascer. Ninguém ousava duvidar, porque tinha sido sempre assim. Também o galo pai cantava pra fazer o sol nascer, e também o galo avô...

Aconteceu, entretanto, que o galo certo dia perdeu a hora (fora dormir muito tarde),   
 e quando acordou o sol já estava lá, brilhando no meio do céu, sem necessidade de canto de galo algum que o fizesse nascer. E desde este dia em diante o galo foi acometido de uma incurável tristeza, por saber que o sol não nascia pelo encanto do seu canto, e os bichos foram acometidos de uma maravilhosa alegria por saberem que não precisavam mais do galo pra haver outro dia... Rubem Alves.